Carlos Jorge Marques Caldas Xavier, nascido a 26 de Janeiro de 1962, em Lourenço Marques (atual Maputo), Moçambique, foi um dos mais notáveis e versáteis jogadores que passaram pelo Sporting e, indiscutivelmente, um dos melhores de sempre, quer como defesa, quer como médio, aliando a essa polivalência, uma excelente qualidade técnica e capacidade de liderança em campo.
Carlos Xavier formou-se nas escolas do Sporting, tendo passado por todos os escalões de formação do clube de Alvalade, até chegar à equipa sénior, na época de 1980/81, com apenas 18 anos de idade. Desde cedo se evidenciou pela qualidade técnica individual e elegância com que tratava e conduzia a bola, juntando a tudo isso, uma notável visão de jogo, qualidade de passe e forte remate de meia distância.
À semelhança de outros companheiros seus do Sporting que cedo revelaram o seu enorme talento e rapidamente iriam ascender à equipa principal dos "leões", casos de Futre (apenas por uma época - 1983/84), Morato, Venâncio, Fernando Mendes, Litos, Mário Jorge e Lima, também Carlos Xavier teve uma afirmação rápida, atingindo a titularidade indiscutível logo na sua 2ª época como sénior, em 1981/82, na qual se sagrou campeão nacional e conquistou a Taça de Portugal, jogando na posição de defesa central ao lado do excelente e experiente Eurico, o "patrão" da defesa leonina.
Equipa leonina que conquistou a "dobradinha" (época 1981/82).
Em cima (da esquerda para a direita): Eurico, Jordão, Lito,
Meszaros, Carlos Xavier e Virgílio.
Em baixo (mesma ordem): Ademar, Marinho, Barão,
Manuel Fernandes (cap.) e Nogueira.
Contudo, e igualmente à semelhança do ocorrido com a carreira dos jovens jogadores atrás referidos (à exceção de Futre), de Carlos Xavier ficou sempre a ideia de que poderia ter ido mais além e a sua carreira poderia ter atingido ainda maior notoriedade, tendo esta acabado por ficar, de certa forma, aquém das expectativas iniciais, augurando-se-lhe um futuro promissor que, no entanto, não se veio a confirmar na dimensão que a sua categoria fazia prever.
Não obstante isso, Carlos Xavier acabou, ainda assim, por construir uma bonita carreira, tendo, nomeadamente, sido o 3º futebolista que mais vezes envergou a camisola leonina em competições oficiais nos diferentes escalões do clube, atingindo um total de 620 jogos em representação do Sporting, ficando, neste particular, apenas atrás de Vítor Damas e de Hilário. É igualmente um dos futebolistas leoninos com mais presenças no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, tendo efetuado um total de 248 jogos, em 12 épocas de "leão ao peito". Se contabilizarmos também os jogos a contar para as competições europeias (44 presenças), Taça de Portugal e Supertaça, aquele número ascende aos 333 jogos, tendo marcado 22 golos.
Carlos Xavier estreou-se na equipa sénior do Sporting a 21 de Dezembro de 1980, no Estádio José Alvalade, em jogo a contar para a 14ª jornada do Campeonato Nacional, diante do Amora, tendo o Sporting vencido por 5-0, com um dos golos leoninos a ser apontado precisamente pelo então jovem central de 18 anos. Que melhor estreia se poderia desejar?
A época de 1981/82 foi a da sua afirmação plena, fazendo dupla com Eurico no centro da defesa leonina, conquistando a "dobradinha", à qual se seguiu a conquista da Supertaça na temporada seguinte. No entanto, como atrás referimos, nas épocas seguintes a carreira de Carlos Xavier passou por altos e baixos, evidenciando uma certa irregularidade exibicional fruto, quer da instabilidade vivida no clube, com frequentes mexidas no plantel e a consequente entrada e saída de jogadores e treinadores, quer da própria juventude e imaturidade reveladas pelo atleta, algo deslumbrado pelo seu fulgurante início de carreira, quer ainda, pela própria indefinição posicional que viveu dentro do campo, não se fixando numa única posição, facto este que acabou por afetar o seu rendimento e qualidade exibicional.
Equipa leonina que conquistou a Supertaça (época 1987/88).
Em cima (da esquerda para a direita): João Luís, Oceano, Duílio,
Carlos Xavier, Morato, Silvinho, ?, Mário Jorge e Peter Houtman.
Em baixo (mesma ordem): Marlon, Paulinho Cascavel, Virgílio,
Tony Sealy, Vital, Rui Correia e Mário.
Na temporada de 1986/87, Carlos Xavier é emprestado à Académica de Coimbra, realizando aí uma excelente temporada que motivou o seu regressou a Alvalade na época seguinte, conquistando então a sua 2ª Supertaça. Após se ter revelado como promissor defesa central nas duas primeiras épocas, nas seguintes Carlos Xavier passou a jogar, sobretudo, no meio campo, alternando os flancos com o centro do terreno.
Até que na época de 1990/91, sob o comendo técnico do brasileiro Marinho Peres, Carlos Xavier se fixou no lado direito da defesa, realizando nesse ano uma das suas melhores temporadas de sempre, rubricando belas exibições naquela posição. Nessa época, o Sporting atingiria as meias finais da Taça UEFA, após uma bonita campanha europeia, sendo afastado da final pela poderosa equipa italiana do Inter de Milão, recheada de grandes "estrelas" mundiais, como, por exemplo, o trio alemão constituído por Brehme, Matthaus e Klinsmann, recém-campeões do mundo pela Alemanha.
Equipa leonina que chegou às meias finais da Taça UEFA (época 1990/91).
Em cima (da esquerda para a direita): Venâncio (cap.), Leal, Douglas,
Carlos Xavier, Luisinho e Ivkovic.
Em baixo (mesma ordem): Oceano, Filipe, Careca, Gomes e Litos.
Fruto dessa excelente época e respetiva campanha europeia, Carlos Xavier começa a ser cobiçado por vários clubes europeus, acabando por se decidir pelo futebol espanhol, sendo contratado pela Real Sociedad, então treinada pelo galês e antigo treinador do Sporting, John Toshack. Juntamente com o seu companheiro Oceano, Carlos Xavier permaneceu durante 3 temporadas no clube basco, continuando a exibir-se a bom nível.
Na época de 1994/95, então já com 32 anos, Carlos Xavier decide regressar a Portugal e ao clube do seu coração, o Sporting, conquistando nesse ano a sua 2ª Taça de Portugal. A temporada seguinte marca a sua despedida do Sporting como jogador, não sem antes conquistar a sua 3ª Supertaça. Foi igualmente finalista vencido da Taça de Portugal nessa época, numa final que ficou tristemente assinalada pela morte de um adepto do Sporting, devido a um verylight lançado pela claque do Benfica.
Equipa leonina que conquistou a Taça de Portugal" (época 1994/95).
Em cima (da esquerda para a direita): Marco Aurélio, Costinha,
Vujacic, Naybet, Balakov e Yordanov.
Em baixo (mesma ordem): Carlos Xavier, Figo, Amunike, Nélson e Oceano (cap.).
Chegava assim ao fim uma bonita e longa carreira de 16 anos no futebol profissional, 12 dos quais passados em Alvalade, onde viria a conquistar um título de campeão nacional, duas Taças de Portugal e três Supertaças. Carlos Xavier foi também chamado a representar a Seleção Nacional, tendo totalizado 10 internacionalizações pela Seleção A, 16 pela Seleção de Esperanças e ainda 6 pela Seleção Júnior.
Ainda hoje Carlos Xavier é recordado com saudade e admiração pelos adeptos e sócios leoninos, constituindo uma das grandes referências da história do futebol do Sporting, como jogador de elevada craveira técnica e um dos que mais vezes envergou a camisola leonina.