quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Recordações de um clássico Sporting - F.C. Porto (época 1981/82).


Realiza-se amanhã, dia 26 de Setembro, o segundo confronto da época envolvendo os "três grandes" do futebol português, mais concretamente, o clássico Sporting - F.C. Porto, no Estádio José Alvalade (Alvalade XXI). Decorridas que estão 5 jornadas do Campeonato Nacional, Sporting e F.C. Porto encontram-se à 6ª jornada separados por escassos 2 pontos a favor dos portistas, e em caso de vitória leonina, como desejamos e esperamos que venha a acontecer, o Sporting passará para a frente do F.C. Porto. Obviamente que este Sporting-F.C. Porto não é um jogo decisivo na luta pelo título, pois ainda há muitas jornadas e muitos pontos em disputa, mas é inegável que uma vitória do Sporting irá moralizar e motivar esta jovem equipa para realizar um bom resto de campeonato.
Até hoje, Sporting e F.C. Porto defrontaram-se por 80 vezes em jogos a contar para o Campeonato Nacional, com o Sporting na condição de clube visitado. Desses 80 confrontos realizados em casa dos "leões", há a registar uma clara supremacia leonina de 43 vitórias (mais de 50 por cento), 18 empates e 19 derrotas. A título de curiosidade, registe-se que o F.C. Porto não vence em Alvalade há já 5 temporadas, pois a última derrota leonina caseira aconteceu na época 2008/09, tendo então o F.C. Porto derrotado o Sporting por 2-1.
Na véspera de mais um grande clássico do futebol português e dando sequência a artigos anteriores publicados, de antevisão destes jogos entre os históricos "três grandes" do futebol português, uma vez mais, o Armazém Leonino recorda hoje um Sporting - F.C. Porto referente há já longínqua temporada de 1981/82, o qual deixou gratas e saudosas recordações não apenas em mim, mas entre todos os sócios e adeptos leoninos, pois o Sporting viria a sagrar-se campeão nacional no final dessa época.


Este Sporting - F.C. Porto, a contar para a 15ª jornada, última da 1ª volta do campeonato, disputou-se no dia 17 de Janeiro de 1982, perante uma enorme moldura humana que quase esgotou o Estádio José Alvalade. Com arbitragem de Raul Nazaré (Setúbal), assistiu-se a um excelente espetáculo de futebol, com muita emoção e luta, do primeiro ao último minuto, e sempre com incerteza no resultado até final da partida. O golo do Sporting foi marcado por Mário Jorge, aos 34 minutos da 1ª parte. Esta época de 1981/82 constituiu, aliás, para Mário Jorge, a temporada do seu arranque definitivo e respetiva afirmação na equipa leonina principal, tendo efetuado um total de 30 partidas, 20 das quais a contar para o campeonato nacional.

Mário Jorge, o marcador do golo solitário
que deu o precioso triunfo aos "leões".

Ao longo do encontro, houve um domínio repartido entre as duas equipas no comando do jogo, tendo o Sporting se superiorizado ao F.C. Porto, sobretudo, durante a 1ª parte, assistindo-se após o intervalo a uma reação esperada e natural do F.C. Porto, que arriscou mais no ataque em busca, pelo menos, do golo da igualdade. As jogadas de perigo e as oportunidades de golo sucederam-se em ambas as balizas, mas os avançados foram perdulários, tendo mostrado uma pontaria desafinada e revelado uma grande ineficácia e desinspiração na hora do remate.
Apesar de jogar em casa, o Sporting rodeou-se de algumas cautelas, entrando em campo com uma equipa lutadora e determinada, disposta a correr e a lutar muito do primeiro ao último minuto, jogando de forma realista e pragmática, preferindo um futebol mais prático e objetivo, em detrimento de um futebol bonito e de grande qualidade técnica.
Durante a 1ª parte, o Sporting foi a equipa que teve o maior domínio e iniciativa do jogo, tendo sido também a equipa que mais procurou o golo, pois uma vez conseguindo adiantar-se no marcador, seria depois mais fácil, através de uma defesa compacta e de um meio campo lutador, controlar melhor o adversário, esperando pela sua reação e atacando apenas pela certa e em rápidos contra-ataques. Felizmente, o golo leonino apareceu ainda durante a 1ª parte, permitindo ao Sporting abordar a 2ª parte ainda com mais confiança e motivação, não necessitando de arriscar tanto e preferindo adotar uma atitude mais expectante e de maior contenção, jogando com muita concentração, espírito de entreajuda e de sacrifício, privilegiando sobretudo o contra-ataque.
Apesar de um ligeiro domínio e ascendente portista durante a 2ª parte, este acabou por se revelar infrutífero e inócuo, pois os jogadores do F.C. Porto foram pouco objetivos e decididos na hora do remate, insistindo num futebol de grandes adornos técnicos e de muitos passes, mas sem a profundidade desejada e revelando pouca eficácia e inspiração na zona de finalização. Ao invés, os jogadores do Sporting bateram-se como autênticos "leões", com uma defesa intransponível ajudada por um meio campo muito batalhador e dispondo igualmente de avançados com um grande espírito de entreajuda.

Uma das equipas-tipo do Sporting da época de 1981-82.
Em cima (da esquerda para a direita): Eurico, Jordão, Meszaros, Virgílio, Inácio e Oliveira.
Em baixo (mesma ordem): Lito, Carlos Xavier, Barão, Manuel Fernandes (cap.) e Nogueira.

Para a história deste jogo, aqui fica a constituição da equipa leonina que, com esta vitória sobre um dos mais fortes concorrentes na corrida ao título, mostrou que era também uma forte candidata a conquistar o campeonato, como felizmente se veio a comprovar mais tarde. O treinador inglês Malcolm Allison dispôs a equipa num sistema tático em 4x3x3, aparentemente ofensivo, mas na verdade, como Oliveira recuava muitas vezes para ajudar na luta do meio-campo, aquele sistema acabou por se transformar frequentemente num 4x4x2.
A equipa leonina alinhou da seguinte forma: Meszaros; Barão, Carlos Xavier, Eurico e Virgílio; Ademar, Marinho e Nogueira; Manuel Fernandes (cap.), Oliveira e Mário Jorge. Não foram efetuadas quaisquer substituições na equipa leonina.



Caricatura da autoria de Francisco Zambujal de antevisão do clássico:
O duelo entre os 2 treinadores, Malcolm Allison (Sporting) e Hermann Stessl (F.C. Porto).

A terminar, só para acrescentar que uma das grandes "baixas" para este jogo foi a do excelente avançado leonino, Jordão, que se encontrava lesionado, tendo jogado em seu lugar o jovem extremo esquerdo Mário Jorge que efetuou, aliás, uma excelente exibição, para além de ter sido o autor do golo da vitória leonina. Na edição de sábado do jornal A Bola, o Mestre Francisco Zambujal, o maior caricaturista desportivo de sempre, fazia a já habitual antevisão destes clássicos, retratando o duelo Allison-Stessl numa belíssima caricatura, as quais fazem também parte da história do futebol português e, em particular, do campeonato nacional.

sábado, 13 de setembro de 2014

Algumas curiosidades a respeito do "clássico/derby" Sporting - Belenenses.


Realiza-se esta noite, dia 13 de Setembro de 2014, no Estádio José Alvalade, mais um grande "clássico/derby" do futebol português, Sporting-Belenenses, a contar para a 4ª jornada do Campeonato Nacional, cujo confronto lisboeta encerra já uma longa e rica história com muitos episódios e curiosidades à volta destes jogos.
Com efeito, os "derbies" entre o Sporting e o Belenenses são dos jogos mais antigos, populares e carismáticos da cidade de Lisboa, ou não se tratassem de dois dos maiores clubes do futebol português, os quais já se defrontaram em 73 ocasiões em jogos a contar para o campeonato, tendo o Sporting como clube visitado, seja nos antigos recintos do Campo Grande e do Lumiar, seja no Estádio Nacional ou, a partir de 1956, no antigo e saudoso Estádio José Alvalade, ou ainda no atual estádio, desde 2003.


                                       Estádio José Alvalade (1956 - 2003).

Desses 73 confrontos a contar para o "Nacional" da 1ª Divisão, tendo o clube de Alvalade como anfitrião, há a registar 57 vitórias para o Sporting, 11 empates e apenas 5 vitórias para o Belenenses. Esta estatística mostra, desde logo, uma clara superioridade caseira do Sporting diante do Belenenses e, consequentemente, uma longa tradição de grandes dificuldades sentidas pelo clube do Restelo sempre que teve de se deslocar ao terreno dos "leões". Curiosamente, as 5 vitórias alcançadas pela equipa da "Cruz de Cristo" diante do Sporting nunca foram obtidas no Estádio José Alvalade (nem no antigo, nem no atual).
Na verdade, aqueles 5 triunfos foram todos obtidos antes de 1956, concretamente em 3 estádios diferentes: no Campo Grande (época 1934/35, vitória por 3-1; época 1936/37, vitória por 3-2); no Campo do Lumiar (época de 1941/42, vitória por 4-1; época de 1949/50, vitória por 1-0); no Estádio Nacional (época de 1954/55, vitória por 2-1).
Assim, há já 60 anos que o Sporting não perde em sua casa com o Belenenses para o campeonato.

Uma das equipas-tipo do Sporting da época de 1943/44.
Em cima: Joseph Szabo (treinador), Canário, Octávio Barrosa, Eliseu Cavalheiro,
Manuel Marques (massagista), Azevedo, Manecas e Álvaro Cardoso.
Em baixo: Mourão, João Cruz, Peyroteo, António Marques e Albano.

A maior goleada infringida pelo Sporting ao Belenenses ocorreu há pouco mais de 70 anos, na época de 1943/44, tendo a equipa leonina derrotado a equipa belenense por 6-1. Esta vitória robusta registou-se no Estádio do Lumiar, a 30 de Janeiro de 1944, a contar para a 10ª jornada do "Nacional", tendo os golos leoninos sido apontados por Daniel ("hat-trick"), Mourão, António Marques e Peyroteo.


Uma das equipas-tipo do Sporting da época de 1947/48.
Veríssimo, Travassos, Juvenal, Canário, Jesus Correia,
Manuel Marques ("Manecas"), Albano, Azevedo, Álvaro Cardoso e Peyroteo.

Os jogos em que se verificaram maior número de golos marcados (8 golos) aconteceram em duas ocasiões, a primeira vez, na temporada de 1947/48, com um empate a 4 golos, e a segunda vez, na temporada de 1950/51, com uma vitória do Sporting por 6-2. O empate (4-4) aconteceu à 21ª jornada, em jogo realizado a 18 de Abril de 1948, no Estádio do Lumiar, tendo os golos leoninos sido apontados por Veríssimo, Martins, Vasques e Jesus Correia. A goleada (6-2) ocorreu à 9ª jornada, em jogo realizado, igualmente, no Estádio do Lumiar, a 12 de Novembro de 1950, tendo os golos leoninos sido marcados por Vasques ("hat-trick"), Mário Wilson (bisou) e Martins.


Uma das equipas-tipo do Sporting da época de 1950/51.
Em cima: Azevedo, Veríssimo, Passos, Juvenal, Canário e Caldeira.
Em baixo: Jesus Correia, Vasques, Mário Wilson, Travassos e Martins.

Regressando a 2014, e concretamente ao "derby" desta noite, esperamos e desejamos que a tradição se mantenha e que ainda não seja desta vez que o Belenenses quebra o enguiço de 6 décadas sem vencer no terreno do Sporting.
Nas décadas de 40 e 50, existia um grande "equilíbrio de forças" entre Sporting e Belenenses, com jogos muito disputados e de resultado sempre imprevisível, dada a qualidade dos jogadores que integravam as duas equipas lisboetas. Esse equilíbrio foi-se esbatendo e reduzindo, pouco a pouco, ao longo das décadas de 60, 70, 80 e 90 do século XX, a favor do Sporting.
Nos últimos anos e, em particular, hoje em dia, existe realmente uma grande diferença em termos da qualidade e poderio dos respetivos plantéis, com clara vantagem para o Sporting. Mas tal superioridade tem de ser demonstrada na prática, dentro das quatro linhas e ao longo dos 90 minutos que dura a partida. Sabemos que já não há jogos fáceis e quando menos se espera as equipas teoricamente mais fracas "batem o pé" aos chamados "grandes", tal como, aliás, tem acontecido com alguma frequência nos últimos anos.
Portanto, todo o cuidado é pouco para prevenir quaisquer surpresas desagradáveis e eventuais dissabores. É como diz o ditado popular: "Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém"! O Sporting está avisado para as dificuldades que poderá encontrar por parte do seu opositor e está preparado, quer do ponto de vista físico e mental, quer do ponto de vista técnico e tático, para levar de vencida o seu adversário. A equipa leonina é superior à equipa belenense, mas tem de o provar em campo, para poder alcançar a tão desejada vitória e conquistar mais 3 pontos, tendo em vista continuar nos primeiros lugares da tabela classificativa.