quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

RUI JORDÃO - o meu Nª 11












Nascido na cidade angolana de Benguela, Rui Jordão chegou ao Sporting, em 1977, depois de passagens pelo «eterno rival» e pelos espanhóis de Saragoça, de onde foi resgatado para o emblema «leonino». Ao lado de Manuel Fernandes, durante nove temporadas, formou uma das melhores duplas de avançados do futebol português, graças às características complementares de ambos, bem como à forte amizade que dura até aos dias de hoje. Aliou força, velocidade, técnica individual e pura classe para realizar uma carreira plena de golos, não só ao serviço do Sporting como na selecção portuguesa, marcando, entre outros, o golo decisivo do apuramento para o Euro84 e os dois da meia-final com a França. Com excelentes números de golos por jogo, Rui Jordão poderia ter somado muitos mais, caso não tivesse sido perseguido, ao longo da sua carreira, por sucessivas lesões.Depois de «pendurar as chuteiras», o outrora ídolo das multidões, tem levado uma vida totalmente distanciada do futebol, explorando, com sucesso, outra das suas veias artísticas: a pintura.
Títulos conquistados: 2 Campeonatos Nacionais (1979/80 e 1981/82); 2 Taças de Portugal (1977/78 e 1981/82); 1 Supertaça (1981/82)Distinções: Melhor marcador do campeonato nacional: 1979/80 – 31 golos Internacionalizações: 43.
No Euro 84, Jordão estava no topo. No grande palco deliciou os adeptos e pôs Portugal a sonhar, apontando 2 golos na meia final com a França.A sua carreira não foi a mesma depois disso. Passou a jogar e a marcar menos, até ao divórcio com o Sporting, no fim de 1985/86.Nessa altura, surgiu em grande forma no fim da época de tal forma que José Torres ainda pensou levá-lo ao México, na condição de que actuasse em determinado jogo com o Benfica.Manuel José não aceitou a proposta e Jordão ficou em terra.
Em meados de 1974, os belgas do Racing White contactaram Borges Coutinho, perguntando o preço de eventual transferência de Jordão. Vinte mil contos foi a resposta. Os belgas não disseram mais nada. Percebesse bem porquê, se se pensar que, dois anos volvidos,Jordão seria vendido aos espanhóis de Saragoça, por nove mil. Ao chegar a Espanha, um médico espanhol, de nome Pelegrini, surgiu a convencê-lo de que nem sequer valia a pena iludir-se! «Antes da assinatura do contrato,cumprindo os rituais destas coisas, depois de inspecções arrastadas, reprovou-me! Ferido no meu orgulho, perguntei-lhe porquê. Como se ele próprio estivesse dorido, disse-meque não poderia dar o aval à minha contratação, porque os meus joelhos não davam garantias para jogar futebol de alta competição, que um deles até já parecia de paralítico!Só não regressei, de imediato, ao Benfica, porque o presidente do Saragoça ignorou a decisão do médico e assumiu toda a responsabilidade pela minha contratação. De facto,acabei por não ser feliz em Espanha, mas isso não se deveu a limitações físicas, deveu-se às dificuldades criadas pelas intrigas e invejas de um paraguaio chamado Arrua, que temeu que eu o ofuscasse e começou logo a infernizar-me a vida. Por isso, ao fim de três meses já queria regressar à Luz, não voltei porque um dirigente do Benfica não quis...»Foi a sorte do Sporting.
A Alvalade regressaria, para cumprir sonho de criança que ficara adiado, ele que era sportinguista desde pequenino. Sousa Marques, vice-presidente doSporting, confessaria, depois do acordo com os espanhóis, que pescar um espadarte não teria sido mais difícil do que contratar Jordão, porque o Benfica se intrometeu no caminho,como se tivesse descoberto uma mina de ouro.Porque, por essa altura, se abrira já quente guerra de palavras entre sportinguistas e portistas. Nas Antas, Pinto da Costa, já muito bem informado sobre negócios alheios,lançaria, urbi et orbi, o remoque: «Não há nenhum jogador no F. C. Porto a ganhar,anualmente, mais de 1000 contos, entre ordenados e luvas...»Era dia 28 de Agosto de 1977. De Saragoça para Lisboa viajara Jordão em táxi aéreo, para que, nessa noite, se estreasse com a camisola do Sporting, contra o Vasco da Gama. Os brasileiros perderam por 1-2 e Jordão, autor de dois golos, seria o seu carrasco. Há sempre reverso na medalha. Se calhar mais do que em qualquer outro jogador da sua geração, Rui Jordão conquistou a glória com dor, com sangue — com pernas partidas por três vezes! «A primeira foi em 1974, num Benfica-F. C. Porto, no Estádio da Luz, num lance disputado com o Gabriel: tropecei no calcanhar dele, caí desamparado, de tal forma que fiquei com a perna dobrada para trás. Meniscos, ligamentos cruzados, tudo fracturado. Apenas se safaram o ligamento anterior e a rótula. Levei mais de um ano a tentar recuperar. Em vão. Em Portugal não se fizera o diagnóstico exacto da lesão, tive de ir à Bélgica para se perceber que não sofrera apenas fractura de menisco! Fui operado de imediato, recuperei. Tinha 22 anos. Três anos passados, de novo no Estádio da Luz, aquele famoso lance com o Alberto, ao interceptar-me de forma violenta, acertando-me no pé de apoio, fracturando-me a tíbia da perna direita. Mais uma época de estaleiro.Depois de uma longa recuperação, reapareceria num jogo nocturno entre o Sporting e o Famalicão, e o José Eduardo, com uma entrada pelas costas, partiu-me o perónio da perna esquerda e os ligamentos da tibiotársica. Foram três lesões muito graves que,obviamente, me impediram de fazer coisas ainda mais bonitas no futebol...»Depois do deslumbre em que o seu futebol se transformou no Europeu de França, foiJordão assediado pelo F. C. Porto, que acabara de contratar Futre, em espectacular jogada de futuro. João Rocha teve de abrir os cordões à bolsa para segurar em Alvalade aquele que era, então, o mais emblemático jogador do Sporting. Dois anos volvidos, época quase em branco, queixas de atrofia muscular, Manuel José desinteressou-se dele, Jordão desinteressou-se do Sporting. Magoado, partiu. Longo tempo andaria sem que se desse por ele. Eurico convencê-lo-ia a regressar aos relvados, defendendo as cores do Setúbal.Teve ainda tempo para mostrar o seu talento, a ponto de ser, outra vez, convocado para a Selecção. E, porque era esse o seu destino, nesse ano da despedida do futebol, um defesa do Elvas ainda lhe partiria o nariz! Foi uma vida de glória farta, espalhando o perfume do seu futebol de sabor a gindungo, pelos campos do Mundo. Mas, como nem sequer a felicidade se mede toda pela mesma bitola, houve momentos que suplantaram tudo, tornando-se, ourados em si, imarcescíveis. Nota-se-lhe a emoção no tom de voz quando Jordão desenrola as recordações desses dias. «Jamais me esquecerei daquele jogo contra a URSS, na Luz, decisivo para o apuramento para o 'Europeu'. O passaporte ficou nos meus pés quando Cabrita me indicou para marcar o penalty que castigava falta sobre Chalana. Consegui vencer os nervos e marcar o golo que nos conduziu a França, onde só por falta de sorte não nos sagrámos campeões europeus. Por lá vivi dias incríveis. Por exemplo, aquele golo contra a França ainda hoje me deixa a vibrar. Mostrámos que éramos das melhores equipas do Mundo e fui considerado o melhor jogador daquela equipa-maravilha.»
Clubes:
1988/89 - Vit. Setúbal - 36 Jogos / 11 Golos
1987/88 - Vit. Setúbal - 24 Jogos / 1 Golo
1986/87 - Sem clube
1985/86 - Sporting - 23 Jogos / 3 Golos
1984/85 - Sporting - 18 Jogos / 8 Golos
1983/84 - Sporting - 29 Jogos / 16 Golos
1982/83 - Sporting - 26 Jogos / 18 Golos
1981/82 - Sporting - 27 Jogos / 27 Golos
1980/81 - Sporting - 28 Jogos / 14 Golos
1979/80 - Sporting - 29 Jogos / 31 Golos
1978/79 - Sporting - 11 Jogos / 8 Golos
1977/78 - Sporting - 16 Jogos / 16 Golos
1976/77 - Saragoça - 33 Jogos / 14 Golos
1975/76 - S.L.Benfica - 28 Jogos / 30 Golos
1974/75 - S.L.Benfica - 8 Jogos / 6 Golos
1973/74 - S.L.Benfica - 26 Jogos / 15 Golos
1972/73 - S.L.Benfica - 10 Jogos / 5 Golos
1971/72 - S.L.Benfica - 18 Jogos / 9 Golos

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