sexta-feira, 22 de março de 2013

Carlos Xavier - Um futebolista polivalente de grande qualidade técnica e elegância!

 
Carlos Jorge Marques Caldas Xavier, nascido a 26 de Janeiro de 1962, em Lourenço Marques (atual Maputo), Moçambique, foi um dos mais notáveis e versáteis jogadores que passaram pelo Sporting e, indiscutivelmente, um dos melhores de sempre, quer como defesa, quer como médio, aliando a essa polivalência, uma excelente qualidade técnica  e capacidade de liderança em campo.
Carlos Xavier formou-se nas escolas do Sporting, tendo passado por todos os escalões de formação do clube de Alvalade, até chegar à equipa sénior, na época de 1980/81, com apenas 18 anos de idade. Desde cedo se evidenciou pela qualidade técnica individual e elegância com que tratava e conduzia a bola, juntando a tudo isso, uma notável visão de jogo, qualidade de passe e forte remate de meia distância.
À semelhança de outros companheiros seus do Sporting que cedo revelaram o seu enorme talento e rapidamente iriam ascender à equipa principal dos "leões", casos de Futre (apenas por uma época - 1983/84), Morato, Venâncio, Fernando Mendes, Litos, Mário Jorge e Lima, também Carlos Xavier teve uma afirmação rápida, atingindo a titularidade indiscutível logo na sua 2ª época como sénior, em 1981/82, na qual se sagrou campeão nacional e conquistou a Taça de Portugal, jogando na posição de defesa central ao lado do excelente e experiente Eurico, o "patrão" da defesa leonina.
Equipa leonina que conquistou a "dobradinha" (época 1981/82).
Em cima (da esquerda para a direita): Eurico, Jordão, Lito,
Meszaros, Carlos Xavier e Virgílio.
Em baixo (mesma ordem): Ademar, Marinho, Barão,
Manuel Fernandes (cap.) e Nogueira.
 
Contudo, e igualmente à semelhança do ocorrido com a carreira dos jovens jogadores atrás referidos (à exceção de Futre), de Carlos Xavier ficou sempre a ideia de que poderia ter ido mais além e a sua carreira poderia ter atingido ainda maior notoriedade, tendo esta acabado por ficar, de certa forma, aquém das expectativas iniciais, augurando-se-lhe um futuro promissor que, no entanto, não se veio a confirmar na dimensão que a sua categoria fazia prever.
Não obstante isso, Carlos Xavier acabou, ainda assim, por construir uma bonita carreira, tendo, nomeadamente, sido o 3º futebolista que mais vezes envergou a camisola leonina em competições oficiais nos diferentes escalões do clube, atingindo um total de 620 jogos em representação do Sporting, ficando, neste particular, apenas atrás de Vítor Damas e de Hilário. É igualmente um dos futebolistas leoninos com mais presenças no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, tendo efetuado um total de 248 jogos, em 12 épocas de "leão ao peito". Se contabilizarmos também os jogos a contar para as competições europeias (44 presenças), Taça de Portugal e Supertaça, aquele número ascende aos 333 jogos, tendo marcado 22 golos.
Carlos Xavier estreou-se na equipa sénior do Sporting a 21 de Dezembro de 1980, no Estádio José Alvalade, em jogo a contar para a 14ª jornada do Campeonato Nacional, diante do Amora, tendo o Sporting vencido por 5-0, com um dos golos leoninos a ser apontado precisamente pelo então jovem central de 18 anos. Que melhor estreia se poderia desejar?
A época de 1981/82 foi a da sua afirmação plena, fazendo dupla com Eurico no centro da defesa leonina, conquistando a "dobradinha", à qual se seguiu a conquista da Supertaça na temporada seguinte. No entanto, como atrás referimos, nas épocas seguintes a carreira de Carlos Xavier passou por altos e baixos, evidenciando uma certa irregularidade exibicional fruto, quer da instabilidade vivida no clube, com frequentes mexidas no plantel e a consequente entrada e saída de jogadores e treinadores, quer da própria juventude e imaturidade reveladas pelo atleta, algo deslumbrado pelo seu fulgurante início de carreira, quer ainda, pela própria indefinição posicional que viveu dentro do campo, não se fixando numa única posição, facto este que acabou por afetar o seu rendimento e qualidade exibicional.
Equipa leonina que conquistou a Supertaça (época 1987/88).
Em cima (da esquerda para a direita): João Luís, Oceano, Duílio,
Carlos Xavier, Morato, Silvinho, ?, Mário Jorge e Peter Houtman.
Em baixo (mesma ordem): Marlon, Paulinho Cascavel, Virgílio,
Tony Sealy, Vital, Rui Correia e Mário.
 
Na temporada de 1986/87, Carlos Xavier é emprestado à Académica de Coimbra, realizando aí uma excelente temporada que motivou o seu regressou a Alvalade na época seguinte, conquistando então a sua 2ª Supertaça. Após se ter revelado como promissor defesa central nas duas primeiras épocas, nas seguintes Carlos Xavier passou a jogar, sobretudo, no meio campo, alternando os flancos com o centro do terreno.
Até que na época de 1990/91, sob o comendo técnico do brasileiro Marinho Peres, Carlos Xavier se fixou no lado direito da defesa, realizando nesse ano uma das suas melhores temporadas de sempre, rubricando belas exibições naquela posição. Nessa época, o Sporting atingiria as meias finais da Taça UEFA, após uma bonita campanha europeia, sendo afastado da final pela poderosa equipa italiana do Inter de Milão, recheada de grandes "estrelas" mundiais, como, por exemplo, o trio alemão constituído por Brehme, Matthaus e Klinsmann, recém-campeões do mundo pela Alemanha.
Equipa leonina que chegou às meias finais da Taça UEFA (época 1990/91).
Em cima (da esquerda para a direita): Venâncio (cap.), Leal, Douglas,
Carlos Xavier, Luisinho e Ivkovic.
Em baixo (mesma ordem): Oceano, Filipe, Careca, Gomes e Litos.
 
Fruto dessa excelente época e respetiva campanha europeia, Carlos Xavier começa a ser cobiçado por vários clubes europeus, acabando por se decidir pelo futebol espanhol, sendo contratado pela Real Sociedad, então treinada pelo galês e antigo treinador do Sporting, John Toshack. Juntamente com o seu companheiro Oceano, Carlos Xavier permaneceu durante 3 temporadas no clube basco, continuando a exibir-se a bom nível.
Na época de 1994/95, então já com 32 anos, Carlos Xavier decide regressar a Portugal e ao clube do seu coração, o Sporting, conquistando nesse ano a sua 2ª Taça de Portugal. A temporada seguinte marca a sua despedida do Sporting como jogador, não sem antes conquistar a sua 3ª Supertaça. Foi igualmente finalista vencido da Taça de Portugal nessa época, numa final que ficou tristemente assinalada pela morte de um adepto do Sporting, devido a um verylight lançado pela claque do Benfica.
Equipa leonina que conquistou a Taça de Portugal" (época 1994/95).
Em cima (da esquerda para a direita): Marco Aurélio, Costinha,
Vujacic, Naybet, Balakov e Yordanov.
Em baixo (mesma ordem): Carlos Xavier, Figo, Amunike, Nélson e Oceano (cap.).
 
Chegava assim ao fim uma bonita e longa carreira de 16 anos no futebol profissional, 12 dos quais passados em Alvalade, onde viria a conquistar um título de campeão nacional, duas Taças de Portugal e três Supertaças. Carlos Xavier foi também chamado a representar a Seleção Nacional, tendo totalizado 10 internacionalizações pela Seleção A, 16 pela Seleção de Esperanças e ainda 6 pela Seleção Júnior.
Ainda hoje Carlos Xavier é recordado com saudade e admiração pelos adeptos e sócios leoninos, constituindo uma das grandes referências da história do futebol do Sporting, como jogador de elevada craveira técnica e um dos que mais vezes envergou a camisola leonina.
 

terça-feira, 19 de março de 2013

Jesualdo Ferreira - 4º técnico a treinar os "3 Grandes" e o mais velho de sempre a treinar o Sporting.

Ao assumir o comando técnico do Sporting em Janeiro passado, em substituição do belga Vercauteren, despedido, ao fim de 2 meses, pelo presidente leonino Godinho Lopes, Jesualdo Ferreira tornou-se no 4º técnico da história do futebol português a treinar os chamados "3 Grandes". Antes de Jesualdo Ferreira, já haviam passado pelo Sporting, F.C. Porto e Benfica, o brasileiro Otto Glória, o chileno Fernando Riera e o português Fernando Santos.

 
Este trio de treinadores acabou por se sagrar campeão nacional por, pelo menos, um dos "3 Grandes", a saber: Otto Glória, campeão ao serviço do Benfica e do Sporting (em 1965/66), Fernando Riera, campeão ao serviço do Benfica e Fernando Santos, campeão ao serviço do F.C. Porto. Também Jesualdo Ferreira se sagrou campeão nacional ao serviço do F.C. Porto e, como treinador-adjunto de Toni, também ao serviço do Benfica.
Com o ingresso de Jesualdo Ferreira no Sporting, o clube de Alvalade contabiliza, numa só temporada, 4 treinadores, depois de Sá Pinto, que transitou da época passada, Oceano e Vercauteren. Remonta à época de 1997/98, a última vez que o Sporting havia tido 4 treinadores na mesma temporada. Com efeito, nessa época em que o Sporting não foi além do 4º lugar (a 21 (!) pontos do campeão nacional, o F.C. Porto), passaram pelo seu comando técnico Octávio Machado, Francisco Vital, o chileno Vicente Cantatore e Carlos Manuel.
Na presente temporada, infelizmente o Sporting já só luta pelo 5º lugar que dá ainda acesso a uma vaga na Liga Europa. Caso consiga alcançar esta posição, o clube leonino iguala a sua pior classificação de sempre no Campeonato Nacional, ocorrida na já distante época de 1975/76, sob o comando técnico de Juca.
Registe-se outra curiosidade a respeito de Jesualdo Ferreira; aos 66 anos, tornou-se o técnico mais velho de sempre a treinar o Sporting, ultrapassando, neste particular, o anterior recorde de 12 anos que estava na posse de Fernando Mendes, quando este antigo jogador e treinador, então com 63 anos, passou pela última vez pelo Sporting, em Janeiro de 2001.
Vejamos, a título de curiosidade, o "ranking" dos 12 treinadores mais velhos da História do Sporting, liderado por 2 treinadores portugueses:
 
 
1º) Jesualdo Ferreira - 66 anos; 2º) Fernando Mendes - 63 anos (campeão nacional em 1979/80); 3º) Vicente Cantatore (Chile) - 62 anos; 4º) Bobby Robson (Inglaterra) - 59 anos; 5º) Jimmy Hagan (Inglaterra) - 58 anos; 6º) Mirko Jozic (Croácia) - 58 anos; 7º) Joseph Szabo (Hungria) - 58 anos (campeão nacional em 1940/41, 1943/44 e 1953/54); 8º) Gentil Cardoso (Brasil) - 57 anos; 9º) Robert Waseige (Bélgica) - 57 anos; 10º) Franky Vercauteren (Bélgica) - 56 anos; 11º) Malcolm Allison (Inglaterra) - 54 anos (campeão nacional em 1981/82); 12º) Fernando Riera (Chile) - 54 anos.
Este "ranking" é constituído maioritariamente por treinadores estrangeiros (3 ingleses, 2 belgas, 2 chilenos, 1 brasileiro, 1 húngaro e 1 croata), incluindo apenas os 2 treinadores portugueses mais velhos. Destes 12 treinadores, apenas 3 se podem orgulhar de se terem sagrado campeões nacionais de "leão ao peito".
 

sábado, 16 de março de 2013

João Rocha (1930 - 2013): Um presidente para a eternidade!

Festejos em família (João Rocha com os seus 3 filhos) pela conquista
da Taça dos Campeões Europeus de Hóquei em Patins (1977).

O Armazém Leonino curva-se respeitosa e saudosamente perante a memória de João Rocha, histórico presidente do Sporting durante 13 anos (1973 - 1986), recentemente falecido aos 82 anos, vítima de doença prolongada. Muito se escreveu e falou nestes últimos dias sobre João Rocha, a propósito do seu desaparecimento do "mundo dos vivos", tendo este sido, muito justamente, alvo de homenagens póstumas, recordações, análises, comentários e opiniões da vasta família sportinguista, mas igualmente de muita gente ligada ao desporto e, em particular ao futebol, mas não só, relativamente à sua vida e obra e ao legado que deixa para a posteridade.
Com efeito, a passagem de João Rocha pela presidência leonina deixou fortes marcas no clube, marcas estas que o tempo jamais apagará da memória de todos quantos viveram aqueles anos inesquecíveis, e a sua obra ficará eternamente perpetuada na história do Sporting, cujo clube serviu com inexcedível esforço, dedicação, devoção e glória durante 13 anos.
Troca de galhardetes entre João Rocha e o
presidente do Benfica, Borges Coutinho.
(caricatura da autoria de Francisco Zambujal, in jornal "A Bola")
 
Como adepto desde sempre do Sporting e sócio há já 25 anos, só lamento que João Rocha, por motivos de saúde, não tivesse podido em 1986 continuar por muitos mais anos à frente dos destinos do Sporting, pois foi durante a sua presidência (a de mais longa duração da história leonina) que o Sporting se afirmou definitivamente como a maior potência desportiva nacional e o clube mais eclético de Portugal. Foi, de facto, uma grande perda para o clube e para toda a família leonina o abandono de João Rocha, pois o Sporting não mais voltaria a ser como dantes, sobretudo, no que diz respeito à quantidade de títulos conquistados daí em diante comparativamente aos alcançados nos seus 13 anos de presidência.
João Rocha foi um presidente visionário, sempre à frente do seu tempo, com ideias avançadas relativamente à gestão profissional e moderna de um clube de futebol. Simultaneamente, tinha consciência que a grandeza do Sporting seria tanto maior, quanto mais apoiantes, sócios e adeptos tivesse e mais atletas houvesse a praticar o maior número de modalidades desportivas. Com efeito, na sua opinião, a força do Sporting e aquilo que o poderia distinguir e fazer distanciar-se dos seus rivais (Benfica e F.C. Porto), estava na aposta que deveria ser feita nas diversas modalidades e não apenas no futebol, onde apesar de tudo haveria de conquistar 3 Campeonatos Nacionais (1973/74, 1979/80 e 1981/82), 3 Taças de Portugal (1973/74, 1977/78 e 1981/82), finalista vencido em 1978/79, e uma Supertaça (1982/83).
Passagem de testemunho entre João Rocha e Amado de Freitas:
chegavam ao fim os 13 anos de João Rocha na presidência leonina.
(Caricatura da autoria de Francisco Zambujal, in jornal "A Bola")

Este seu sonho e ideal viria a concretizar-se plenamente durante os seus 13 anos de vigência presidencial do Sporting, traduzindo-se em números impressionantes: mais de 1200 troféus (1210 títulos nacionais e 52 Taças de Portugal) conquistados em diversas modalidades, mais de 15 000 atletas praticantes de 22 modalidades, com destaque para o futebol, atletismo, andebol, hóquei em patins, basquetebol e ciclismo; entre 1973 e 1986 o número de sócios ultrapassou a barreira dos 100 000, chegando aos 105 000 sócios.
Foi durante o seu consulado que se procedeu a uma série de melhorias no Estádio José Alvalade, nomeadamente, com a construção, em 1984, da Bancada Nova em substituição do velhinho peão, a construção de uma pista de tartan, dois campos de treino relvados, ginásios e pavilhões polivalentes de apoio à prática das modalidades ditas amadoras, com destaque para a Nave de Alvalade.
Troca de presentes entre João Rocha e o presidente do
 Benfica, Fernando Martins.
(caricatura da autoria de Francisco Zambujal, in jornal "A Bola")
 
Foi também durante a sua presidência que se construiu, em 1976, o célebre Pavilhão de Alvalade onde o Sporting viveria, ao longo de uma década, grandes momentos de euforia e exaltação clubísticas, conquistando vitórias e títulos no andebol, basquetebol e hóquei em patins, com destaque, nesta última modalidade, para as 4 conquistas europeias (Taça dos Campeões Europeus em 1977, Taça CERS em 1984 e duas Taças das Taças em 1981 e 1985).  Foi já no final do seu último mandato à frente do Sporting que se assistiu, em 1986, à demolição deste histórico pavilhão, devido às obras do Metro do Campo Grande.
Como presidente do Sporting, João Rocha viria a chefiar várias comitivas a diversos países de 4 continentes, à África Lusófona (Angola e Moçambique), à Europa, aos Estados Unidos da América (promovendo o contacto com a comunidade emigrante portuguesa aí radicada) e à Ásia, destacando-se de entre todas elas, a visita à China, em 1978, naquela que foi a primeira comitiva de um clube português àquele país, inaugurando com essa visita uma nova era de relações entre os dois povos.
Capa do livro "João Rocha - Uma vida".
(Biografia da autoria de Alfredo Farinha)

João Rocha foi, de facto, o "presidente dos presidentes" e, para mim, o maior da História do Sporting e do dirigismo desportivo em Portugal. Muito mais haveria para escrever e dizer sobre João Rocha. Penso, no entanto, que o essencial ficou dito, pelo menos para a geração mais nova de sportinguistas que desconhece ou conhece pouco a respeito de João Rocha.
Para todos os sportinguistas e amantes do desporto em geral, e mesmo para aqueles que não são do Sporting, aconselho a leitura de um livro ("João Rocha - Uma vida") de 1996, que retrata e descreve na perfeição a vida e a obra de João Rocha. O autor desta biografia é o saudoso Alfredo Farinha, histórico jornalista do jornal "A Bola", fantástico escritor e cronista, que deixou nas páginas daquele jornal as mais belas crónicas e prosas que alguma vez li sobre futebol.
Para mim, Alfredo Farinha foi uma das mais brilhantes "penas" do jornalismo desportivo português, sendo amplamente reconhecidos o seu talento narrativo e literário, traduzidos numa escrita "límpida, suave e fresca", com um grande rigor e clareza gramatical e linguística, digna dos maiores elogios e admiração. Confesso que o meu gosto pela leitura e pela escrita foi influenciado, estimulado e desenvolvido pela leitura das centenas de crónicas e comentários deste "monstro" do jornalismo português que tive o prazer de ler naquelas páginas em formato grande do jornal "A Bola", nas décadas de 70 e de 80. Leiam o livro que vale a pena e tenho a certeza que darão por muito bem empregue esse tempo.
Aqui ficou o tributo e homenagem póstuma do Armazém Leonino ao presidente de todos os sportinguistas, João Rocha. Paz à sua alma e que descanse em paz.