quinta-feira, 7 de maio de 2009

Fernando Mamede



Mário disse...

Amigo Nuno, permita-me que coloque um texto da minha autoria, retirado de um blogue que criei e que está parado à bastante tempo, e que tem um post acerca deste extraordinário recorde:

http://sportingatletismo.blogspot.com

"A Marca Mítica"
O primeiro Recorde Mundial do Atletismo português foi conseguido por Fernando Mamede, no DN Galan, o tradicional Meeting de Estocolmo, a 2 de Julho de 1984. O recorde pertencia desde 1978 ao queniano Henry Rono, com 27.22,5 (tempo manual) e foi batido por quase nove segundos!
Três anos antes, em Alvalade, Fernando Mamede bateu pela primeira vez o recorde da Europa, com 27.27,7, ficando então a pouco mais de cinco segundos. E desde essa altura que essa proeza se aguardava. Quer Carlos Lopes, que ficou a menos de dois segundos do recorde em 1982 e a menos de um segundo em 1983, quer o próprio Mamede, que em 1982 se aproximou a 45 centésimos (!), estiveram antes quase a batê-lo.
Já com os Jogos Olímpicos de Los Angeles muito próximos, Moniz Pereira conseguiu juntar Lopes e Mamede na mesma prova de 10.000 m. O objectivo era atacar decididamente o Recorde do Mundo de Henry Rono. Para Mamede acabou por ser o seu grande dia.
Entre os mais de 20 concorrentes estavam seis portugueses. Do lado de fora, Moniz Pereira, Rosa Mota (que correra os 3000 m), Humberto Sequeira (que fizera 1500 m) e José Pedrosa. Montaram uma espécie de secretariado junto à meta. Enquanto o Professor ia dando os tempos de passagem, os outros iam tomando notas e comparando tempos.
A "Lebre" foi o Português Guilherme Alves, especialista de 3000 m obstáculos. Desde o início, Alves foi algo lento completando o 1ºkm com 2.49,40, melhorando progressivamente nos seguintes: 2.45,05 (2º km) e 2.41,96 (3º km). Mas nesta altura o que se tinha em conta era a comparação com os tempos de passagem do recorde de Rono. Com 3000 m percorridos os 8.16,41 eram mais lentos que os 8.13,6 que Rono havia feito no dia do seu recorde. Aos 3500 m Alves retira-se e toma a dianteira o norte-americano Ed Eyestone. Este não melhora o ritmo mas mantém-no num nível regular. Isto proporcionou que os tempos de passagem de Estocolmo passassem a ser os melhores que os da melhor marca mundial, dado que na corrida de Rono se havia reduzido o ritmo acentuadamente entre o 3º e o 7º km. A primeira metade da prova correu-se em 13.45,40 (5000 m), mais rápido que os 13.49,0 de Rono, o que dava evidentes esperanças. Não obstante, o "momento" da corrida aconteceu aos 7000 m, quando Carlos Lopes tomou a dianteira e desferiu um ataque, completando os quilómetros seguintes em 2.41,66 (o 8º km), quase 5 segundos mais rápido que o quilómetro anterior, e 2.42,83 (o 9º km). Tacticamente era necessário que se partisse a corrida, apesar de Mamede ter ficado um pouco para trás. Sabia-se que nos últimos quilómetros, Rono havia estado fortíssimo no dia do seu recorde e portanto, havia que mexer com a corrida. Quando faltava um quilómetro para o final, Lopes ia na frente com 24.41,09 uns 15/20 m à frente de Mamede, entretanto, mais recuperado, e com quatro segundos e meio de vantagem sobre o tempo de Rono. Bastava a Lopes manter o ritmo e o recorde seria seu. Mas a recuperação de Mamede foi SENSACIONAL e correu os últimos 1000 m mais rápidos da história de uma corrida de 10.000 m - 2.32,72 -, os últimos 800 m em dois minutos e a última volta em 57,45 s ! Apanhou Lopes, que ia lançado na frente da corrida, a 500 m da meta, aos 26.12,3 minutos. O público que assistia ao Meeting de Estocolmo, no Estádio Olímpico, começa a agitar-se empolgadamente nas bancadas. Mamede galopa velozmente numa última volta verdadeiramente impressionante. O esforço, rumo à glória, é notório no seu rosto. Corta a meta com 27.13,81 minutos ... RECORDE MUNDIAL ! A ovação dos espectadores mistura-se com a emoção, exteriorizada pelas lágrimas e pelos abraços entre Fernando Mamede e o Prof. Moniz Pereira. Lopes chega em 2º com o tempo de 27.17,48 ... abaixo do recorde de Henry Rono de 27.22,5. Incrível ! Mamede e Lopes pulverizaram a anterior marca !
Se Lopes construiu o Recorde puxando, qual locomotiva o pelotão, Mamede deu-lhe o toque de classe final !
O dia de 2 de Julho de 1984 ficará para sempre gravado nos anais da História do Atletismo e do Desporto Internacional. Portugal passava a ter um cidadão recordista mundial ... Atleta do Sporting Clube de Portugal.

A marca de Mamede só seria ultrapassada cinco anos mais tarde, pelo mexicano Arturo Barrios, em 18 de Agosto de 1989, com o tempo de 27.08,23. No entanto, como Recorde da Europa permaneceu durante quinze anos, até que António Pinto a bateu a 30 de Julho de 1999, em Estocolmo, quando obteve o tempo de 27.12,47.

2 comentários:

Mário disse...

Amigo Nuno, permita-me que coloque um texto da minha autoria, retirado de um blogue que criei e que está parado à bastante tempo, e que tem um post acerca deste extraordinário recorde:
http://sportingatletismo.blogspot.com/2008/02/marca-mtica.html

"A Marca Mítica"
O primeiro Recorde Mundial do Atletismo português foi conseguido por Fernando Mamede, no DN Galan, o tradicional Meeting de Estocolmo, a 2 de Julho de 1984. O recorde pertencia desde 1978 ao queniano Henry Rono, com 27.22,5 (tempo manual) e foi batido por quase nove segundos!
Três anos antes, em Alvalade, Fernando Mamede bateu pela primeira vez o recorde da Europa, com 27.27,7, ficando então a pouco mais de cinco segundos. E desde essa altura que essa proeza se aguardava. Quer Carlos Lopes, que ficou a menos de dois segundos do recorde em 1982 e a menos de um segundo em 1983, quer o próprio Mamede, que em 1982 se aproximou a 45 centésimos (!), estiveram antes quase a batê-lo.
Já com os Jogos Olímpicos de Los Angeles muito próximos, Moniz Pereira conseguiu juntar Lopes e Mamede na mesma prova de 10.000 m. O objectivo era atacar decididamente o Recorde do Mundo de Henry Rono. Para Mamede acabou por ser o seu grande dia.
Entre os mais de 20 concorrentes estavam seis portugueses. Do lado de fora, Moniz Pereira, Rosa Mota (que correra os 3000 m), Humberto Sequeira (que fizera 1500 m) e José Pedrosa. Montaram uma espécie de secretariado junto à meta. Enquanto o Professor ia dando os tempos de passagem, os outros iam tomando notas e comparando tempos.
A "Lebre" foi o Português Guilherme Alves, especialista de 3000 m obstáculos. Desde o início, Alves foi algo lento completando o 1ºkm com 2.49,40, melhorando progressivamente nos seguintes: 2.45,05 (2º km) e 2.41,96 (3º km). Mas nesta altura o que se tinha em conta era a comparação com os tempos de passagem do recorde de Rono. Com 3000 m percorridos os 8.16,41 eram mais lentos que os 8.13,6 que Rono havia feito no dia do seu recorde. Aos 3500 m Alves retira-se e toma a dianteira o norte-americano Ed Eyestone. Este não melhora o ritmo mas mantém-no num nível regular. Isto proporcionou que os tempos de passagem de Estocolmo passassem a ser os melhores que os da melhor marca mundial, dado que na corrida de Rono se havia reduzido o ritmo acentuadamente entre o 3º e o 7º km. A primeira metade da prova correu-se em 13.45,40 (5000 m), mais rápido que os 13.49,0 de Rono, o que dava evidentes esperanças. Não obstante, o "momento" da corrida aconteceu aos 7000 m, quando Carlos Lopes tomou a dianteira e desferiu um ataque, completando os quilómetros seguintes em 2.41,66 (o 8º km), quase 5 segundos mais rápido que o quilómetro anterior, e 2.42,83 (o 9º km). Tacticamente era necessário que se partisse a corrida, apesar de Mamede ter ficado um pouco para trás. Sabia-se que nos últimos quilómetros, Rono havia estado fortíssimo no dia do seu recorde e portanto, havia que mexer com a corrida. Quando faltava um quilómetro para o final, Lopes ia na frente com 24.41,09 uns 15/20 m à frente de Mamede, entretanto, mais recuperado, e com quatro segundos e meio de vantagem sobre o tempo de Rono. Bastava a Lopes manter o ritmo e o recorde seria seu. Mas a recuperação de Mamede foi SENSACIONAL e correu os últimos 1000 m mais rápidos da história de uma corrida de 10.000 m - 2.32,72 -, os últimos 800 m em dois minutos e a última volta em 57,45 s ! Apanhou Lopes, que ia lançado na frente da corrida, a 500 m da meta, aos 26.12,3 minutos. O público que assistia ao Meeting de Estocolmo, no Estádio Olímpico, começa a agitar-se empolgadamente nas bancadas. Mamede galopa velozmente numa última volta verdadeiramente impressionante. O esforço, rumo à glória, é notório no seu rosto. Corta a meta com 27.13,81 minutos ... RECORDE MUNDIAL ! A ovação dos espectadores mistura-se com a emoção, exteriorizada pelas lágrimas e pelos abraços entre Fernando Mamede e o Prof. Moniz Pereira. Lopes chega em 2º com o tempo de 27.17,48 ... abaixo do recorde de Henry Rono de 27.22,5. Incrível ! Mamede e Lopes pulverizaram a anterior marca !
Se Lopes construiu o Recorde puxando, qual locomotiva o pelotão, Mamede deu-lhe o toque de classe final !
O dia de 2 de Julho de 1984 ficará para sempre gravado nos anais da História do Atletismo e do Desporto Internacional. Portugal passava a ter um cidadão recordista mundial ... Atleta do Sporting Clube de Portugal.

A marca de Mamede só seria ultrapassada cinco anos mais tarde, pelo mexicano Arturo Barrios, em 18 de Agosto de 1989, com o tempo de 27.08,23. No entanto, como Recorde da Europa permaneceu durante quinze anos, até que António Pinto a bateu a 30 de Julho de 1999, em Estocolmo, quando obteve o tempo de 27.12,47.

SL

NUNO RAMOS disse...

Obrigado Mário.